Nesta sexta feira,13, Lançamento do Documentário Nós Quilombolas da Amazônia


O lançamento acontece hoje no Centro Cultural do Carmo a partir das 19hs, como parte da programação do Banquete Brasil África.

Não perca e venha conhecer um pouco mais sobre a cultura quilombola na Amazônia.

Mais informações: culturadocarmo.com.br



Em Guajará Miri, audiovisual resgata histórias e memórias culturais quilombolas


Como parte das atividades do projeto Nós Quilombolas da Amazônia as oficinas de audiovisual serviram como importante instrumento para resgate de memórias culturais dos quilombolas da comunidades de Guajará Miri e Itancoã, no município do Acará.

O trabalho resultou em vídeos que iremos postar em partes aqui no blog. O primeiro deles pode ser conferido aqui:



NÓS – QUILOMBOLAS DA AMAZÔNIA DESTACA A PRESENÇA NEGRA NA REGIÃO

          O projeto Nos – Quilombolas da Amazônia iniciou suas atividades no município do Acará, nordeste paraense,região que se destaca no mapa de comunidades quilombolas no Estado do Pará. Navegando pelo rio Guajará ou caminhando pelas estradas de terra, a zona rural do município lembra ainda o início de sua formação.  Seu surgimento remonta ao período em que os colonizadores portugueses realizavam a exploração do território paraense em direção ao interior do Estado do Grão Pará e Maranhão, utilizando como via de penetração o próprio curso dos rios. 
          Nesse processo, ali se formaram grandes fazendas com engenhos que utilizavam mão de obra escrava. Um importante aspecto de nossa história que ainda é capaz de causar estranhamento para alguns quando se fala da presença africana na Amazônia, acostumados à imagem de região despovoada no período colonial, com a esparsa presença do branco e do índio. Até mesmo na historiografia amazônica até alguns anos atrás eram poucos os trabalhos desenvolvidos sobre o tema. Destaque para o grande trabalho desenvolvido por Vicente Salles, com “O Negro no Pará sob o Regime da Escravidão” (1971) e “O Negro na Formação da Sociedade Paraense” (2004), onde ele nos chama a atenção: “A vida do escravo nos engenhos do Pará é outro ponto que ainda não foi devidamente estudado. A casa-grande, que no nordeste simbolizava o sistema senhorial, típico da região da lavoura de cana-de-açucar, teve seu correspondente na Amazônia”. 
          Atento a esta situação, o projeto Nós – Quilombolas da Amazônia busca preencher esta lacuna atuando numa dos principais áreas de produção de cana-de-açucar da região no período colonial. Como Vicente Salles destaca: “Desde o início da ocupação européia do Grão-Pará foi a zona fisiográficaGuajarina – que abrange o Guamá, Capim, Acará (...) – o mais importante centro econômico da Amazônia, com base na lavoura de gêneros exportáveis – sobretudo arroz, fumo, cacau e cana-de-açucar. Aí se estabeleceram os maiores engenhos, as maiores fazendas agrícolas. Aí portanto se despejou numerosa escravaria negra”.
          “Capítulo importante na história social do Pará escreveu o negro nos engenhos de cana-de-açucar. Ali ele exercitou a fuga para os quilombos. Tornou-se ladino. Incorporou-se à Cabanagem”, explica Vicente Salles, lembrando a revolta social deflagrada pelo povo oprimido no Império, na então província do Grão-Pará, estendendo-se de janeiro de 1835 a 1840.  
          No município de Acará boa parte das comunidades rurais na região foi formada quando os descendentes dos senhores de engenho passaram a arrendar as terras para os antigos escravos da fazenda, conforme explica José Carlos Galiza, morador da comunidade Guajará, e membro da Coordenação Executiva da Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará."Itacoã e Guajará não são comunidades de negros fugidos. Eram fazendas de escravos e a gente, por causa da abolição e da falência dos proprietários, ficou lá, permanecemos lá. Tinha a senzala, a casa grande".
          Nesta mesma região, além da comunidade de Guajará e Itacoã são conhecidas as comunidades quilombolas de IgarapáJacarequara, Espírito Santo, Carananduba, Monte Alegre, São Pedro, Boa Vista, São Miguel, Santa Maria, Paraíso, Itaporama e Tapera.
Comunidades que ainda guardam na memória de alguns moradores um tempo de sofrimento. Neto de escravo, aos 93 anos de idade seu Dourival Siqueira do Nascimento, lúcido e com uma vitalidade incomum, ainda lembra das conversas que tinha com o avô quando ele contava histórias de quando era escravo. História de uma casa grande, com 16 quartos, duas cozinhas e um “sumidô” onde os escravos eram castigados. Seu Dorival lembra também das bandas de música que tocavam nas festas da comunidade, onde só quem era branco é que podia dançar. Lembra das cantigas de quando era criança. Do Boi Pai do Campo, e dos cordões de pássaro, Tem Tem e Tucano, manifestações que já desapareceram do calendário cultural da comunidade com o passar dos anos e a pressão da urbanidade.